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Este escrito tem aqui seu fim.

Agradeço a quem o leu.
VERDADE


A memória...












...ela inventa.
A TORRE


Sou a flor
a flor e a fruta
e a árvore
e a terra
e o mundo
Sou o nada
sou o ar
e o verbo
O que quero
é o substantivo
o adjetivo
e a apologia
Não sou eu
subo a torre
caminho sobre
olho de cima
de fora
A torre
vejo tudo
todos vêem-me
no último
andar não há
não há deus
adeus?
não adeus!
1
2
ateu não teu
sou adeus
não há deus
deus é adeus

ARMAS


Amor: guerra de mãos
União momentaneamente inseparável
Instável entrelaçar de sonhos
Risonho temperamentalismo bélico
Belo como a amável munição dum fuzil
Brasil, meu brasil de paz
Atrás do muro de soberanias sobre a mesma terra que há um metro além da fronteira.

Fronteira: união espacial que separa
"Pára, porque senão eu atiro!"
Miro em sua cabeça com um girassol
Solapo-te sentimentos no chumbo simbolizados
Separados se parados por algumas divergências
Seqüências de dizeres "sou mais sapiens que o homo ao lado; sou de raça superior, é o que me disseram."
TÊNUE


Para o que te trarei a seguir, tranca o meio-termo, tritura a Ética a Nicômano, trespassa Aristóteles.

Pensa, pois, em extremos; extremos que não são, de modo algum, uníveis. Usa tua cabeça e imagina o pessimista num pub, compartilhando a mesa e o conhaque com seu primo, o otimista. Feito isto, propõe um tema qualquer à querela e, a partir deste, cria os questionamentos de cada um. (Se preferires, penses a discussão como uma partida de xadrez na qual tu duelas contra a ti mesmo.) Não há a necessidade de nomear o êxito a alguém: não te interessa ali a conclusão da conversa. Quando achares que é hora de encerrar o embate, faze-o. Em seguida, revê as retóricas (como o enxadrista faz com suas jogadas, após o término da partida): captura as cavidades em cada colocação.

Tenta concluir, por fim, onde há mais força: na rocha desmerecendo a flor, ou na flor desmerecendo a rocha; repara na falta do "justo meio" em um mundo sem melancolia; percebe o destrato dado a Aristóteles há tempos.

Entenderás, então, um tanto melhor, teu mundo tênue e mundano.
THANKS A LOT, GUTHRIE


é difícil imaginar o quanto um homem com um violão pode fazer-nos pensar,
ver uma época
e sentir que tudo não era bonito
nem como a historiografia tradicional nos conta

antes de todos, Guthrie.
:
o que você fez, talvez até sem querer, é irrepetível
muito porque outro momento como o seu nunca haverá, com todas as suas peculiaridades
:
você inspirou a tantos que seu alcance é inlocalizável
até porque a música, hoje, é resultado do que desbravadores, como você mesmo, conseguiram
.


thanks, Guthrie.
ROCK


pois que o mundo não vive mais sem ti
já que a alegria tomou tua forma

e vives por todos os lugares
punk e romântico ao mesmo tempo

juro solenemente por ti zelar
sobreviver sem on the road desprezar

serei teu uivo e teu almoço nu
serei a rebelde psicodelia

obrigado por existires
e seres a metamorfose que és

obrigado

tua constante inconstância histórico-rítmica
tuas letras que por tantas viagens me acompanham
PRELIMINAR


dispenso meu pensar
quando penso
ao te despir
minha mão te sente
completamente nua
a repensar
e entende
pois que daqui em diante
o que faremos não compete
a nenhum tipo de palavra.
DANÇA


vejo de volta a dança das armas, em distante e indelével globalização.

Hitlers enfrentam Stalins em plena Maria Antônia: para diversos momentos durante os séculos XX, XXI e XXII, idiossincrasia bélica transportada por escolas de samba políticas.

pois que prefiro morrer dançando a morrer para não ter de dançar.
INAUDITOS AFRESCOS


loucura comprada.

noite fria, Miles Davis time.

I

a figura do mundo me parece profana. não há mais vida após o trabalho. vislumbro festas sem fim, alegorias infindáveis, coloridas, dançantes; todos sussurrando o fim de mais um dia. não há mais passado antes do futuro.

II

sou o cavalo que vaga pelas vias urbanas atrás de água e não vê por que haver progresso. a minha sede é um Grand Canyon sem fim. em prol do progresso, a água fugiu para dentro dos canos. não consigo comer o capim que aqui havia pois meus dentes não roem o asfalto que está por cima. de que adiantam veículos, príncipes hediondos da poluição? dizem que a Loucura ― ai, Erasmo! ― que a Loucura sou eu! pois que assim seja; ela sou eu, loucos sois vós.

III

príncipes montados nuns alazães metálicos verde-oliva surgem em Hindu Kush. suas Excaliburs disparam a paz explosiva de calibre .50. tudo começou quando, invertendo-se sua mensagem, catapultou-se de volta pombos-correio brancos mortos a seu território. e Arthur sequer fora chamado.
DESCONCRETO


seus únicos princípios
consistem
em não possuir nenhum princípio

em não ser nada nem ninguém
além de tudo
de conquistar a todos

ser quem se é
é ser imoral segundo
seus próprios princípios de imoralidade
imoralidade somos nós
sou eu
és tu
somos nós
todos nós


PACÍFICO


pregando a paz no meio de tanta baderna
na imoralidade presente no dia-a-dia


NOS ÔNIBUS


mostra-se em televisões apropriadas
poemas móveis
concretismo sobre quatro rodas
incompatível e pernicioso,
incongruente com o status quo desconcreto das vias urbanas.
FRAGMENTO


e eis que surge uma v-
ont-
a-
de
começar algo novo
intr-
osp-
ect-
ivo
, quebrado e paralisado
pela simples falta de palavras
, de ter-
mos que expressem aquilo que eu desejo
que coloquem para fora aquilo que há-
qui
a-
qui
viram?
a id-
ei-
a
vei-
o de Hermeto
(antes queuesqueça-me, obrigado!, Hermeto)
se-
nt-
im-
en-
to quebrado
falta-me espaço
falta-me palavras
falta-me a pessoa
Contador